A assistência de enfermagem domiciliar existe desde o início do século, no Brasil, realizada por visitadoras sanitárias da Cruz Vermelha, na cidade do Rio de Janeiro ou por enfermeiras de saúde pública, baseada no modelo americano trazido ao país por Carlos Chagas. Muitas pessoas não têm expectativa de adoecer ou de sofrer acidentes que mudem suas vidas. Entretanto, podem enfrentar alterações difíceis e dolorosas em seu estado de saúde em qualquer momento. Entendemos que a promoção da saúde numa sociedade saudável só acontecerá quando cada um de nós, nos diferentes níveis e setores, compreendermos a importância de as pessoas serem o principal diferencial de nossa organização. Para tanto, é preciso romper barreiras e tabus; é preciso ter a coragem de estabelecer o conhecido e enveredar pelos desafios. Segundo o dicionário Aurélio, a palavra “desafio” significa: ato de desafiar, provocação, diálogo popular cantado, composto de improvisos. Para o profissional de enfermagem que assiste o paciente em seu ambiente domiciliar essa palavra passa a significar “ persistência” e “ determinação”. Quando um indivíduo adoece, também sua família fica enferma, portanto, esse profissional deve ter em mente que, seja qual for o ambiente, ele sempre estará tratando o binômio paciente-família. A hospitalização é vista como uma ruptura do indivíduo com seu ambiente habitual. Mudam seus costumes, hábitos e a capacidade de autorrealização e autocuidado, o que causa certamente insegurança. A internação domiciliar permite ao indivíduo retornar ao convívio familiar. A recuperação desses pacientes é muito mais rápida, sem retornos frequentes ao hospital, por causa do apoio afetivo dos familiares, uma alimentação mais bem preparada, ao seu gosto, e medicamentos administrados precisamente, além de ser cientificamente comprovada a eliminação do risco de infecção hospitalar. Inúmeros casos de doenças crônico-degenerativas podem ser gerenciados no domicílio, promovendo condições favoráveis ao tratamento do indivíduo enfermo. A família também terá o papel decisivo nesse novo processo, pois deverá estar preparada para assumir cuidados básicos que lhes sejam atribuídos. É de extrema importância que a família saiba que a assistência de enfermagem domiciliária tem início, meio e fim. Nos períodos do meio e fim, a equipe interdisciplinar (principalmente a enfermeira supervisora) deverá identificar e treinar pessoas da família (cuidador: formal/ informal) para o acompanhamento domiciliar do paciente após o término da assistência de enfermagem domiciliária.
CRITÉRIOS PARA O ESTABELECIMENTO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM DOMICILIAR:
A avaliação é de fundamental importância para o sucesso do programa de assistência, pois é a partir dessa avaliação que se identifica o grau de complexidade do cuidado. Estes dados facilitarão da melhor forma possível a elaboração do programa da assistência de enfermagem domiciliar com seus respectivos custos, equipamentos e insumos necessários:
# O paciente deverá estar de alta hospitalar, porém necessitando de cuidados para sua completa recuperação, ou manutenção clínica.
# As solicitações de acompanhamento médico e avaliação da equipe interdisciplinar devem ser requeridas.
# Caso seja necessário, solicitar autorização da Operadora de Saúde, Caixas de Assistência.
# Um familiar/cuidador informal deverá ser selecionado para ser o multiplicador da continuidade dos serviços prestados ao paciente/segurado.
# O ambiente domiciliar deve ser avaliado quanto a sua funcionalidade (rede elétrica, água, esgoto, telefone, circulação etc.) e adequação à patologia do segurado/paciente para que a prestação do serviço seja adequada. Nesse caso, as atuações da enfermeira avaliadora e da assistente social serão de extrema importância. Um ambiente terapêutico totalmente insalubre dificulta toda conduta a ser implementada.
MODALIDADES DE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM DOMICILIAR:
# De baixa complexidade: neste tipo de assistência, não estão incluídos os procedimentos técnicos invasivos. O profissional de enfermagem realiza cuidados de higiene, alimentação, curativos de pequeno porte, administração de medicação via oral.
# De média complexidade: neste tipo de assistência estão incluídos todos os procedimentos de enfermagem invasivos, como a administração de medicações subcutânea e endovenosa (SC/EV), curativos de médio e grande porte, aspiração de vias respiratórias superiores ou traqueostomia (VAS + TQT), dieta enteral via gastrostomia/ sonda nasoenteral (GTT + SNE), cateterismo vesical de alívio.
# Procedimentos de enfermagem: são procedimentos técnicos a serem realizados para os segurados/pacientes que não necessitam de um acompanhamento contínuo de enfermagem.
# Orientação domiciliar: consiste na orientação e no treinamento do cuidador formal/informal, paciente ou familiar responsável no que diz respeito aos cuidados de enfermagem relacionados ou não com a patologia de base, ou ainda, prescritos pelo médico assistente, independentemente do segurado/paciente estar inserido em algumas das modalidades de assistência de enfermagem já citadas.
ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA SUPERVISÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM DOMICILIAR:
As supervisões de enfermagem serão realizadas de acordo com a modalidade de assistência de enfermagem ou evolução do segurado/paciente, e podem acontecer de forma semanal ou quinzenal, com a finalidade de avaliar o plano de assistência de enfermagem prescrito na avaliação, o desempenho do término de enfermagem, o aprendizado do cuidador e a satisfação da família. Portanto, toda vez que houver falha de avaliação do cuidado, o enfermeiro supervisor será acionado. Em caso de intercorrências ou intervenções médicas, o técnico de enfermagem acionará o médico assistente.
ELABORAÇÃO DE RELATÓRIOS DE ACOMPANHAMENTO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM DOMICILIAR:
Os relatórios serão confeccionados pela enfermeira supervisora. Serão enviados semanalmente ou quinzenalmente ou mensalmente para as operadoras de saúde, caixas de assistência e médicos assistentes a fim de estabelecer um acompanhamento/monitoramento dos serviços prestados e uma comunicação objetiva e transparente entre as partes.
CRITÉRIOS DE ALTA:
Recusa por parte do familiar ou do próprio paciente/ segurado a continuar no programa de assistência de enfermagem domiciliar.
Melhora das condições clínicas do segurado.
Não há colaboração do familiar ou cuidador responsável.
Óbito.
IMPRESSOS NECESSÁRIOS UTILIZADOS DURANTE A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM DOMICILIAR:
Solicitação das operadoras de saúde / caixas de assistência/ laudo do médico assistente.
Solicitação do atendimento.
Programação do atendimento e das visitas domiciliares.
Termo de compromisso.
Prontuário (folhas de admissão, prescrição médica, consulta de enfermagem, prescrição de enfermagem, evolução de enfermagem, evolução clínica, controle de sinais vitais, balanço hídrico, supervisão de enfermagem e de produção com as assinaturas dos plantões realizados pelos técnicos de enfermagem).
Termo de desligamento ou prorrogação.
PERFIL DO PROFISSIONAL PARA ATUAR NO AMBIENTE DOMICILIAR:
Para o profissional de enfermagem que vai cuidar do indivíduo no ambiente domiciliar, o desafio começa quando ele percebe que o tipo de postura profissional deverá ser alterado. Ele vai sair do tradicional ambiente hospitalar e adentrar num contexto domiciliar onde já existem normas, rotinas e costumes constituídos por aquela família. Em tal ambiente, o paciente não só recebe ordens, como também as dá. Quando falamos da modificação da postura profissional, reforçamos a necessidade de persuasão da família a não exigir uma postura desse profissional para afazeres domésticos, e sim respeitá-lo como um modelo institucional, diferenciando sua conduta com a dos familiares. É importante que a família perceba e compreenda que, nesse novo processo, tal profissional cuidará exclusivamente do paciente. Para evitar certos constrangimentos, o profissional de enfermagem em assistência de enfermagem domiciliar deverá adotar alguns itens importantes para alcançar o bom desempenho e resultados favoráveis nas condutas que serão implementadas durante a internação domiciliar. Para tanto, o perfil desse profissional deve:
# Agir com ética e postura.
# Usar uniforme completo.
# Interagir com os demais membros da equipe.
# Envolver-se estritamente profissionalmente.
# Seguir rotinas pré-determinadas pela equipe interdisciplinar.
# Evitar tomar decisões pelo paciente, o que poderia provocar nele perda da autoestima, dependência e depressão.
# Proporcionar dignidade e privacidade para o relacionamento pessoal do paciente com sua família, inclusive com seu cônjuge, para evitar a sensação de solidão e isolamento.
# Compartilhar seu mundo com o paciente, mas evitar comentários em demasia sobre sua vida particular.
# Não tentar modificar o caráter vitalício e os padrões de comportamento do paciente.
# Oferecer ao paciente tempo para escutar, aprender a adaptar-se a esse novo processo e todas as mudanças que irão acontecer no seu domicílio.
Para muitos profissionais, é difícil considerar essa mudança de postura profissional diferenciada fora do tradicional ambiente hospitalar. Contudo, isso faz a grande diferença entre “profissionais e profissionais”. Nosso maior objetivo é o bem-estar físico e psicoemocional do nosso cliente. Como enfermeiros educadores, devemos estar sempre em treinamento, inovando e apresentando um conjunto de ações, para que, no cotidiano de nossas atividades, possamos assumir o compromisso de gerir e desenvolver pessoas.
“As empresas contratam pelos currículos, mas demitem pelas suas atitudes.”
BIBLIOGRAFIA:
Aurélio. Dicionário prático da Língua Portuguesa. Edição 1993.549pp.
Boff L. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra, Petrópolis. RJ: Ed. Vozes. 199 pp.
Murta GF. Dicionário brasileiro de saúde. 1ª ed. São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2006.775 pp.
Santos NCM. Home Care: A enfermagem no desafio do atendimento domiciliar.1ª ed. São Paulo: Iátria, 2005.278 pp.